A bomba que pegou todo mundo de surpresa na última sexta-feira ainda não desceu pela garganta da comunidade. É comum dar umas engasgadas para absorver a notícia de que a Nintendo se desligou completamente do país, ainda que isso não represente tantas mudanças na prática. Será que não mesmo?
O fato é que a concorrência sempre foi um elemento crucial para um mercado sadio. Quando uma marca domina essa fatia, ela fica com o consumidor na palma da mão e faz o que bem quer com ele. Se antes a disputa era acirrada, temos agora novas cartas à mesa e todo um jogo diferente. As regras permanecem, mas as jogadas têm tudo para mudar, para bem ou para mal.
Enfraquecimento da indústria brasileira? Não!
O primeiro ponto sobre o qual podemos refletir é: como está a indústria brasileira, se comparada a, vai, cinco anos atrás? Hoje temos a maioria dos grandes jogos (e dos “pequenos” também, a exemplo dos indies) 100% em português, promoções que trazem o bom e velho boleto a preços que alcançam um patamar aceitável, um número maior de eventos relacionados (BGS é a maior feira da categoria em toda a América Latina) e produtos fabricados em território nacional.
Tanto Sony quanto Microsoft contêm um portfólio inquestionável e fizeram esforços para ter seus consoles aqui no dia do lançamento mundial. A empresa de Bill Gates foi a mais feliz nessa história, pois é possível encontrar o Xbox One a R$ 1300 ou até menos, e isso em revendas oficiais. Não é difícil se deparar com alguma oferta especial do Submarino, do Ponto Frio, do Walmart ou de alguma outra rede grande de varejo pedindo esse valor.
O PS4, por sua vez, continua com o astronômico preço de R$ 4 mil tabelado pela Sony, embora o console possa ser encontrado em promoções por R$ 2500 ou até menos em algumas raras ocasiões. Mesmo assim: como competir com um aparelho que teoricamente está no mesmo patamar e ainda oferece mais recursos multimídia para o público brasileiro? Com esse cenário, é difícil não enxergar uma clara vantagem para o Xbox One.
Impostos vs. vontade da empresa
Conforme mencionado, com a saída da Nintendo pouca coisa muda a nós, consumidores “hardcore”, mas essa teoria não deve ser levada ao pé da letra não. É conveniente lembrar que games como Pokémon X/Y, Donkey Kong: Tropical Freeze e Mario Kart 8, entre outros, foram lançados com sucesso por aqui. Várias lojas se mobilizaram e fizeram aberturas em horários especiais para o público, e a Nintendo apostou em ações interessantes para engajar a comunidade.
O desligamento da empresa em todas as suas operações por aqui – todas, convém ressaltar, o que significa consoles, jogos e acessórios – gerou uma série de reflexões por todos os cantos do Brasil e do mundo. Vontade, portanto, não podemos dizer que faltou, ainda que o Wii U tenha sido lançado no país depois dos concorrentes.
No entanto, há outro ângulo a ser observado desse panorama. Os impostos são um entrave para qualquer empresa, não só para a Nintendo. Microsoft e Sony teoricamente enfrentam os mesmos obstáculos. É claro que são configurações diferentes para cada uma; a empresa de Bill Gates e a gigante japonesa têm base estabelecida em enormes linhas de produtos por aqui. Incluir “mais um” no rol de cada (PlayStation e Xbox, no caso) exigiria uma ponte já construída.
A Nintendo tem toda razão quando se queixa dos impostos do país e até disse que “continuará observando o mercado brasileiro para ver o que pode acontecer no futuro”, mas certamente existiram outros problemas nos bastidores que culminaram na saída da empresa do país. A Big N teria tido conflitos pesados com a distribuidora dos produtos dela por aqui após os problemas na distribuição de Pokémon Alpha Sapphire/Omega Ruby e Super Smash Bros. para Wii U. Até então, o contexto estava aparentemente bem, apesar das inúmeras ressalvas que já conhecemos. Então, cabe a reflexão. Se os impostos fossem a única razão, nenhuma empresa conseguiria nada no Brasil. Há sempre os dois lados da moeda.
Mercado cinza em festa
O mercado cinza constitui uma peça estratégica do mercado. Ele pode não ter concorrência “oficial”, mas quando há produtos em revendas oficiais, a exemplo de Saraiva, Submarino, Walmart e afins, há incômodo para o “cinzão” de Santa Efigênia, no centro de São Paulo, e sites como o Mercado Livre.
Muitos dizem que “pouco muda na prática”, pois sempre encontramos produtos a bons preços por lá. Mas será que o discurso se repete com essa saída da Nintendo? Será que o fato de não haver uma concorrência que buzine na orelha não muda nada? Será que isso não empolga os donos do mercado cinza a determinarem preços maiores? Será que o dólar disparado não os “empolga” ainda mais? Será que o fato de eles saberem que o cara não vai encontrar aquilo em uma loja oficial faz com que o mercado cinza determine o preço que quiser? Enfim, são só reflexões.
A única opção será esse mercado agora. Sabe aquele papo de “concorrência é saudável”? Os donos do cinzão só vão disputar entre eles, mas o consumidor final corre o risco de sair prejudicado nessa história. Convém lembrar também que o mercado cinza não pode ter uma única acepção de "contrabandista".
Um contato do BJ que trabalha na 25 de Março, no centro da capital paulista, foi consultado sobre a questão e disse que notas frias "podem fazer parte de qualquer processo". Muitas empresas do mercado "legal", por exemplo, importam e exportam de maneiras similares, e tem gente no mercado tido como "ilegal" que fazem tudo certinho sem jamais sonegar nada. Para bem ou para mal, o mercado cinza exerce seu papel.
Xbox One em crescimento: preço convidativo, serviço online estabelecido e fabricação nacional
Em cima das “pedras” deixadas por Sony e Nintendo, a Microsoft tem agora um amplo espaço para brincar no quintal. E a empresa vai continuar investindo em bundles, promoções bombásticas na LIVE, projetos com o Kinect e recursos multimídia, ponto forte do Xbox One.
O consumidor que estava em busca de um Wii U vai ficar em dúvida. PS4 ou Xbox One, que teoricamente estão no mesmo patamar? É o que ele vai se perguntar. Mas ao olhar o valor do console da Sony, a bolha estoura. O preço tabelado continua nos R$ 4 mil, com eventuais promoções que reduzem o valor para R$ 2.800, R$ 2.500 ou até menos, mas ainda assim é caro.
Resta apelar para o mercado cinza, em que o preço médio do aparelho é de R$ 1.500, ou seja, dá para pagar uns R$ 200 a menos e comprar um Xbox One por meios oficiais. Pois sim, é possível encontrar o console da Microsoft numa janela de R$ 1.300 a R$ 1.500 em promoções que ocorrem com certa frequência nas principais redes de varejo.
O usuário que quer um console bom em sua casa nem vai hesitar. Esse console por acaso tem também suporte a TV, um acessório bacanudo para a esposa fazer os exercícios em casa e zilhões de outras funções multimídia. Tudo isso por um preço mais barato. Justificativas não faltam para o consumidor brasileiro querer ter um Xbox One em sua sala, analisando friamente.
Brasil para a Microsoft é uma “realidade”, não “oportunidade”
A Microsoft contou ao BJ, no final do ano passado, que o primeiro ano de vida do console por aqui foi “incrível” e que a base estabelecida no país é uma “realidade” para a empresa, e não uma “oportunidade”.
A fabricação nacional e a distribuição em massa, sem falar no competente marketing que a companhia tem realizado (com propagandas na TV inclusive), só reafirmam o compromisso da Microsoft no país. Com a saída da Nintendo e o PS4 ainda caro, essa realidade pode agora representar um grande salto da marca Xbox no país – e o mercado cinza, ressalte-se, continua sendo sempre um canal de vendas “universal”.
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